terça-feira, 19 de novembro de 2013

E hoje é meu aniversário de 1 mês de renascimento!



Boa tarde habitantes das fibras óticas e e sinais wi-fi pelo mundo. Hoje é uma data especial para mim. Mas acredite eu estava até confundindo. Na época quando tudo aconteceu foi tudo meio rápido e acabei me perdendo nos calendários. Hoje está fazendo 1 mês certinho que entrei na sala de cirurgia cerca de uma hora da madrugada e ganhei uma nova perspectiva de vida: realizei meu transplante de rim e pâncreas.

E lá se foi um mês de adaptação e uma recuperação que está sendo muito boa. Nesse mês muitas coisas aconteceram nesse processo. Um passo a passo que vem revelando novas vitórias a cada dia onde o sentimento de agradecimento permeia meus minutos cada vez mais. Foram tantas as mensagens de amigos e parentes dando apoio. Incentivo. Comemorando junto numa corrente de orações que era tanta vibração que sentia que se eu segurasse uma lâmpada ela acenderia em minhas mãos. Muito obrigado.

E há outro sentimento que senti aflorar pelo qual as vezes me sentia um pouco em conflito. Na verdade não era um conflito. Era mais uma dificuldade de definir uma energia maior, fora dos padrão existentes pelos quais muito pouco me identificava com o que já conhecia. Fé. Ela me tomou de uma forma especialmente particular. A gente fica muito emotivo nessas horas. Pode até confundir sentimentos. Mas algo quando acontece assim com você, você se sente realmente tocado por algo que não consegue explicar. Nesse momento acreditei que, acreditar em algo é questão de aceitação, não de compreensão. E entendi o que o Leonardo Boff explicou para Cissa Guimarães em sua entrevista para o livro da séria da GNT Viver com Fé, sobre isso. Ou a música de Gilberto Gil - Se eu quiser falar com Deus (essa interpretação de Elza Soares á capela é para corações fortes) - principalmente no trecho que canta "tenho que aceitar a dor". Ainda não sei o significado disso mas sei que essa fé está comigo e ela me impele a realizar algo novo. A graça que me foi dada depois de tantas coisas, não é obra do acaso. E por vezes meus olhos marejaram tamanha emoção que sentia.

Neste mês que se passou metade foi no hospital. Onze dias do transplante e depois outros quatro por uma dificuldade de adaptação na nova alimentação.  Sobre os 4 dias que internei já comentei aqui. Mas falei pouco sobre os dias logo depois da grande cirurgia. Até porquê a recente condição não me permitia mesmo. Na UTI você fica incomunicável e mesmo no quarto a fragilidade em que se encontra não lhe permite fazer muitas coisas. E em casa depois com tanta coisa o tempo passou e acabei não entrando em detalhes que acho que alguns são legais de mencionar agora nesta data especial.

FIM DA CIRURGIA: QUEM SOU EU?
A cirurgia foi na madrugada do dia 19 de outubro. Oito horas depois tinha um rim e um pâncreas novos dentro de mim. Você vai acordando aos poucos e tendo noção de que virou quase um Robocop. Sondas, drenos, acessos, tubos no nariz, na boca. Um monte de bolsinhas penduradas do seu lado com caninhos descendo líquidos que entram em você sem saber direito por onde. Dentro de um processo apurado de hidratação, entrei pra cirurgia com 75kg. Saí dela com 88kg. Mesmo depois de passar a anestesia demorei uns 5 dias pra sentir os braços e pernas novamente.

O PRIMEIRO BANHO
Não lembro se foi no mesmo dia da cirurgia. Acho que foi no dia seguinte. No domingo. Claro que eu estava lesado de tudo, mas lúcido e consciente até tentando fazer piada com as enfermeiras. Sabe como é né. Melhor tratar bem quem vai tratar de você. rs. Eles tiraram o tubo gástrico e acho que não rosqueou direito no meu estômago aí voltou um líquido quando tiraram sabe!! Aí banho. Só que num corpo de 75kg que tinha ido a 88kg em oito horas e com um rasgo costurado de uns 35 cm na barriga com pontos suficientes pra se fazer 10 megasenas, pra quem é esse corpo é meio complicado até respirar imagina tomar banho. Mas elas conseguiram. Deram aquele banho na cama mesmo. Me viraram pros dois lados. E aquilo era dolorido. Sem contar o pavor da possibilidade de fazer um movimento errado e cair. Desespero. Me lavaram (eu tentava nem pensar no constrangimento, mas as profissionais eram elas, não eu). Me enxugaram com a delicadeza necessária (ai ai ai). E ainda enxugaram e trocaram toda a roupa de cama. Elas deviam filmar e botar no youtube (com tarja preta em algumas partes). Ia ser um sucesso. Aparecer no Faustão. Dar entrevista pro Jô. Apesar dos AIs, ganharam meu respeito e admiração. E eu sobrevivi.

A RETIRADA DA SONDA
Na terça-feira fui para o quarto. Tiraram a sonda naso-gástrica que me permitiu respirar melhor. E os acessos do braço. Um lampejo de liberdade que logo sumiu. Estava com um acesso na subclavia feita no ombro. Um dreno pra retirar líquido da cirurgia e a SONDA por onde se elimina a urina. E lá ia eu de bolsinhas penduradas. O problema da sonda é que parece que a bexiga se desconecta de você. Quando percebe ela tá cheia e as enfermeiras vem descarregar. Lá pela 5a-feira sentia que ela começava a incomodar. Doer um pouco. Na sexta a enfermeira veio tirar.

Pai Nosso que estáis AÍ .. no céu ...

Não acredite em alguém de branco que se aproxima de você com luvas dizendo que só vai doer um pouquinho. É mentira. Eu até tinha esperança que não doesse pois meu colega de quarto tirou e disse que não doeu nada. Mas comigo tem que ser com sofrimento. Aquela dorzinha que sentia antes era que realmente estava inflamando e quando ela tirou tive a sensação que ela fez um parto por minha uretra. Gritei de dor perguntando o sexo da criança. Eles riam e eu me contorcia fazendo piada. Gente eu não presto. Por isso Deus tem "ótimo humor" comigo. Só pode. Fiquei um dia com sensação de cistite indo no banheiro a cada 20 minutos. Na terceira vez um coágulo de sangue saiu. Realmente passou um pouco da hora de tirar. Mas eu também sobrevivi.


Esses são alguns momentos da primeira semana. Vou preparar outro post sobre outros situações interessantes pra que esse não se torne tão longo. Acho legal dividir essa coisa porquê é algo muito importante pra mim e até acredito que possa ajudar outras pessoas com duvidas, talvez medos. Recebi uma graça como disse. Eu acredito. Se isso me foi dado por um bom motivo tentarei fazer direito e ser real merecedor. Obrigado por ler.



Um comentário:

  1. Oi Renato,
    Nos falamos e eu nem parabenizei você! Feliz aniversário! Todo esse processo doloroso e de renascimento deveri se tornar um livro! Muitos iam se beneficiar com a história que já foi percorrida por vc! Mas principlamente por saber que alguem trilhou esse caminho com a lucidez com que vc chegou até aqui!
    Bjs

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