sexta-feira, 22 de novembro de 2013

Os incríveis chefs que trabalham escondidos nas grandes cozinhas internacionais ... de Hospital!!!

                                                 Essa imagem é meramente provocativa.

Olá gente amiga, passageiros dessa nave errante que fica batendo de um tema a outro. Apesar de as vezes não ter muita lógica ela tem sim. A minha. Desculpa aí.

Pra você que sai de manhã na correira só com aquele cafezinho magro feito no microondas com café solúvel o qual geralmente termina no corredor esperando o elevador. Ou mesmo pra você que acorda uma hora antes pra ter o desjejum de príncipe que sua avó sempre disse ser a mais importante refeição do dia, saibam que pra tudo que se come existe muita gente se empenhando pra fazer do seu momento um grande momento de alegria ao abrir a boca e saborear o que desejar ou precisar.

Desde os croissants recheados aos brioches de Maria Antonieta (as vezes se perde a cabeça com tanta coisa gostosa não é mesmo?), ou mesmo somente com aquela coxinha com catupiry e um suco saboreados de pé na frente da lanchonete, tudo teve o carinho e atenção de alguém. Bem, ao comer qualquer coisa é bom pensar que foi feito com amor e carinho.

Mesmo um suco aguado e uma coxinha que esta fria por dentro houve uma técnica empregada pra se chegar naquele resultado. Seja para o orgasmo gastronômico ou para sua intoxicação alimentar posterior (3 dias de atestado em média).

Num hospital não é nada diferente disso. Afinal não dá pra viver só de soro por muito tempo. Seu aparelho digestivo não pode ficar muito tempo sem trabalhar. Após meu transplante voltei a começar a me alimentar por via oral a partir do quarto dia, quando fui transferido para o quarto.

Pense um restaurante de escala industrial com centenas de clientes, as vezes ate milhares, todos com um pedido diferente mais ao menos no mesmo horário. E são seis refeições diárias ao dia. Gente, é um Dom Antonio. (restaurante do bairro italiano de Santa Felicidade em Curitiba famoso por atender até 4000 clientes ao mesmo tempo. Só que lá o cardápio é padrão pra todo mundo).

Fiquei "hospedado" no Hospital Angelina Caron, na região metropolitana de Curitiba, no município de Campina Grande do Sul. Esse hospital, segundo informações é um dos que mais fazem transplantes no país. Acho que na primeira semana que estive lá, parece que foram um por dia. Tem um vídeo lá com o meu cirurgião. Não, não estou ganhando royalties. Mas não deixa de ser uma forma de agradecimento.

Enfim, pensem nos Chefs, su-chefs, auxiliares, atendentes e até no pessoal que servem as refeições pois não podem trocar os "pratos" dos pacientes. Já pensou servir comida de diabético pra quem está com anemia? E um arroz com batata pra quem fez bariátrica? Bem, só esqueceram da minha gelatina uma vez, que compensaram sempre trazendo duas nas outras vezes. De sabores diferentes, tá pensando o que?!!!!

Primeira fase - a dieta líquida

Comecei com a dita líquida. Depois de 4 dias no soro melhor ajudar o estômago a saber o que é comida com algo bem leve. Mas beeeeeeeeemmmm leve meeeeeeeeeessssmooo! Meu primeiro almoço ganhou o nome carinhoso de "água de batata a lá wake up estômago".   Gente, vocês já comeram, ou melhor beberam algo que não conseguiram identificar do que era feito? Tive essa sensação várias vezes. As primeiras colheradas foram difíceis (a foto mostra porquê). Além do que só descobri o sache de sal depois da quinta colherada.  Mas aí fui ao paraíso. Sal era vida e eu era feliz. O caldinho foi todo. Estava meio morno (chamei o maitrê e reclamei a demora na cozinha e não ia dar os 10% ... rsrsrsr). No dia seguinte a água de batata feita com alguma outra coisa já era esperada com ansiedade por mim. E aquele salzinho era salvador. E as gelatinas cada vez mais .. coloridas. Já dava até pra escolher. Ficar amigo do maitrê tem suas vantagens. A partir do segundo dia resolvi virar aquela bandejinha num copo de plástico e tudo ficou mais fácil. Entre uma refeição e outra, chá.

Segunda fase - dieta pastosa

Com a evolução da dieta líquida, veio a pastosa uma semana depois do transplante. Agora a água de batata vinha com uma batata no caldinho agora bem mais consistente. Ainda dava pra tomar de canequinha mas era bom a ajuda da colher. Mais sachê de sal e quase passei a acreditar que Jamie Oliver estava cozinhando pra mim. Mingauzinho ralo passou a substituir o chá da manhã e da noite permanecendo a tarde.

Terceira fase - dieta sólida (o rodízio imaginário do Dom Antonio)

Café da manhã da segunda-feria foi pastoso novamente, mas como a médica no domingo disse que ia começar a sólida, acordei naquele dia só pensando nas moças trazendo meu banquete. Aquele franguinho frito a passarinho bem sequinho com aquele rodizio de lasagna na manteiga, espaguete verdi ao sugo, ao funghi, o frango presando, o nhoc frito, a saladinha de chicória com vinagre de vinho tinto, conchiglione de abobora, a polentinha frita ... huuummmmmmm ... estava tudo lá. Estava tudo lá na forma de arroz e feijão (sem caldo), pedaços de frango cozido, polentinha mole cozida, brócolis e couve-flor. Tudo sem sal numa bandejinha de alumínio. Sem direito a repetição. Mas tinha gelatina. Mas pessoal, eu realmente comi aquilo como se fosse o rodízio que mencionei acima. E estava muito bom. Sachê de sal. Rapei a bandeja e depois fui caminhar. Rodízio é rodízio né. E no café da tarde tinha ... café. Com leite. E pão  integral com geléia e margarina sem sal. Que marravilhe! Achei que estava na Ana Maria Braga e não sabia. Pra que câmera eu olho?

Na quarta a tarde depois de 12 dias de internamento recebi alta já com saudade daqueles chefes maravilhosos que tanto se empenharam pra me trazer as melhores refeições da atualidade pra minha realidade. Tá bom, é deboche. Hospital por mais 5 mil estrelas que seja, é hospital. Fui super bem tratado lá e saí só com elogios por toda a equipe. Inclusive os cozinheiros. Só o barulho que achava demais pra um hospital. Ma isso é assunto pra depois.

Portanto se você não tem restrições alimentares, divirta-se. Mas não abuse. Uma água com batata por mais providencial que possa ser em certos momentos não substitui o prazer de um pão com manteiga bem quentinho. Buon apetit!

Também adoro comida mineira. Foto de abertura deste post pra nos irritar.

Não satisfeito e com aquela saudade toda da cozinha do hospital, no sábado seguinte - 2 semanas após o transplante, fui visitar os cozinheiros por mais quatro dias. A comidinha de casa não desceu bem. esses quatro dias de receitas você acompanha aqui.

3 comentários:

  1. EU NÃO SABIA QUE TINHA NA FAMÍLIA UM " JORGE AMADO" ESTE RAPAZ VAI LONGE..É UM TALENTO NATO ESTE MEU SOBRINHO...GUARDEM BEM ESTE NOME,LOGO O VERÃO EM CAPAS DE ALGUM LIVRO EXPOSTO NAS MELHORES LIVRARIAS DO PAIS. BJS. MIL..SR.ESCRITOR.

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  2. É verdade Renato, as cozinhas dos restaurantes dos hospitais são ultra especializadas e sofisticadas - mesmo que não tenham muito tempero, e já faz tempo que o serviço de "hospedagem" nos hospitais são preocupações de grandes departamentos nos hospitais, enquanto os médicos cuidam dos pacientes eles estão preocupados com a iluminação e ruidos da hospedagem, com as cores e os odores, com a recepção e o atendimento telefônico... é muuuuito interessante! Já acompanhei muita gente internada e sempre observo isto! Parabens pelo post, muito interessante falar sobre isto!

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  3. O que me faz refletir que a diferença entre um hors d'oeuvre e uma torrada reside na fome da boca!!!
    bjs

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