quarta-feira, 4 de dezembro de 2013

Capítulo VII - Khager está longe. Mas está lá!

Todos ficaram inquietos. Aquela história que o ancião contou havia se perdido nas tradições e na memória dos ancestrais de Arhun. Mas fazia sentido. Passaram a lembrar dos acontecimentos relacionados com os sentimentos da princesa e o clima inconstante de Kawtby e que esse havia se agravado desde que a princesa havia encontrado o viajante. Mas como a história havia se perdido?

Toda a tradição deve ser cultivada mas também referenciada na história de um povo, de um lugar. Quando isso é esquecido a tradição em si acaba se perdendo. Torna-se lenda. As pessoas passam a acreditar como uma fábula. Vira história de criança e acaba perdida no tempo.

Mas havia outro motivo mais urgente, pelo menos no coração da princesa, que os fizeram chegar até ali. O destino de Khager.


-- Aquiete seu coração princesa Afharin - começou Iramaeles. Mas lhe adianto que será uma viagem longa. O destino de Khager também foi esquecido como algumas tradições de seu povo, mas ela está lá. Para além do poente, cruzando as serras de pedra feita até passar pelas colinas verdes de Shimbala. Seguiremos pelos campos de Orome até passarmos pela planície eterna de Aretho. Então veremos o grande mar interior, a serpente de água de Akalimam.

Um dos capitães chegou perto do rei e falou que se tratava de uma viagem muito longa, para além de muitas léguas de que conheciam.

Iramaeles de imediato interrompeu dizendo para não temerem. Não estariam sozinhos na empreitada.

-- Não lhes daria um rumo sem saber de alguém que poderia guiá-los.

-- Por que está nos ajudando? perguntou Arhun.

Ao que Iramaeles respondeu que, como havia dito antes há vantagens de se andar a tanto tempo pelo mundo. Dessa forma não apenas entendia o destino dos homens, mas também aprendera sobre os destinos da vida. Ainda assim Arhun não se deu totalmente por convencido com aquela explicação vaga. Mas Iramaeles então disse ao rei que os guiaria, e no momento oportuno receberia o pagamento que melhor lhe aprouvesse.  Com Arhun ainda intrigado, o ancião apenas mencionou que não seria nada que não estivesse ao seu alcance. Mas Afharin queria saber mais e interrompeu ambos.

-- Então atravessamos o mar e chegamos a Khager?

-- Se cruzarmos o mar, devemos pegar o destino a noroeste. Entraremos numa região mais seca e quente. Mas logo seremos saudados pelo povo de Khager.

Mais uma vez o coração de Afharin se encheu de esperança. Arhun imaginava com seus  capitães os preparativos pra uma empreitada tão distante e longa e ainda os reais interesses de Iramaeles. Mas o tempo era curto e não havia chance para mais perguntas. 

Afharin estava satisfeita. Sabia onde tinha que chegar e como chegar. E agora também tinha um guia. Descansaram àquela tarde, mas a princesa pediu ainda mais um favor ao ancião. Ouvia o barulho das ondas que indicavam que a praia não estava longe. Iramaeles de pronto ia mostrar-lhes o mar.

Caminharam por um quarto de hora, mas a ansiedade alimentada pelo som das ondas quebrando na areia lhes fez parecer que andaram bem mais tempo. Após desviarem de alguns arbustos e árvores, com um movimento de seu cajado Iramaeles abriu um caminho mais largo na mata e parou de repente dizendo:

-- Vislumbrem a imensidão de Mararam ...

E pararam todos maravilhados e também receosos bela beleza e a vastidão do oceano que se apresentava diante deles. Era surpreendente para aqueles olhos acostumados aos cenários das montanhas. Uma imensidão livre de um azul intenso que batia com força na areia definido entre morros e montanhas, acariciando o terreno com força, mas recuando pra se renovar em energia das águas salgadas que já molhavam seus pés. Se aproximaram da beirada do mar onde as ondas morriam. Foram tomados pela sensação de ter contato com aquela força.  Alguns já com água na cintura foram impedidos de prosseguir por Iramaeles. Toda beleza é perigosa, dizia ele. Sentaram á beira-mar e ficaram olhando o mar, em silêncio, como se tentassem comunicar-se com ele em seus pensamentos. O sol começava a se por às costas de nossos viajantes e o laranja que se desenhava no céu os fascinava ainda mais.



-- Vamos meus peregrinos. Amanhã  pegamos o caminho para Kawtby. Temos uma longa viagem a preparar.

-- Conhecemos o caminho de volta pela montanha, sr Iramaeles. Disse o capitão.

-- Mas não pretendo retornar pela montanha meu jovem. Quero ir por dentro dela, pela casa dos antigos dragões. Vocês gostarão de ver.

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 Leia Cap I, leia CAP VI


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