domingo, 15 de dezembro de 2013

Não é pra isso que torcemos.


Pois é. Futebol. Alegria do povo. Turbilhão de emoções e paixões. O esporte mais popular do planeta que arrasta multidões a estádios modernos e campinhos de várzea. Adorado em todas as classes sociais, sob esse prisma é bem democrático. Na hora da comemoração pelo Gol, o verdadeiro orgasmo da galera, abraçam-se o executivo da grande empresa e o auxiliar da limpeza. "Semo campeão. Semo tudo ingual". 

Mais um final de campeonato brasileiro, um dos mais disputados do mundo (pensa como deve ser chato torcer na Espanha que praticamente só tem dois times que disputam título), e mais uma vez as cenas que ficam na memória, mais que o título do Cruzeiro, é a selvageria na partida entre Atlético-PR e Vasco. Mas já vi esse filme. 

A anos se fala da violência de torcidas no futebol. Até a violência do próprio futebol pois já vi muita pancadaria acontecer entre jogadores. Uma maravilha de exemplo. Aí quando a porca torce o rabo sai todo mundo correndo emitindo opiniões aos milhares sobre saber que ia acontecer, era tragédia anunciada, as torcidas tem que ser banidas, os clubes punidos, tem que ter leis mais severas pros marginais e blá blá blá whiskas sachet.

Futebol não é só arte, não é só esporte. Futebol é cultura. Está entranhada em nossa formação como brasileiros. Dos meninos que crescem querendo ser jogador de futebol. Ao pai que faz de tudo pro filho torcer pro mesmo time. E ao torcedor que faz de tudo pra ver seu time. E é desse último que temos que ter medo.

Acho que faz mais de 5 anos que não vou a um estádio. Tinha época que ia. Hoje, quando dá na telha vejo na TV. Tenho dois times que torço. Mas é aquela coisa. Aquele empenho pra conseguir ingresso. Depois o deslocamento e a falta de tudo como estrutura que garanta a diversão de quem entrou pra ver o show. Este por sinal nem garantido é. Já vi meu time perdendo em casa. Putz, e ainda paguei pra isso. E o pior: vai que a organizada decide encrencar? Aí fodeu pois na hora do pegapracapá não há PM que chegue e correr as vezes é pior.

Já quiseram acabar com as organizadas mas é problema antigo. O lobby dos clubes que precisam delas é muito grande. Algumas em São Paulo até viraram escolas de samba pra não serem caçadas. E muitas vezes os clubes as usam como massa de manobra em medidas desesperadas. Ou vocês acham que é sempre um ato impensado? Teoria da conspiração a parte nesse caso do Vasco e Atlético seria ótimo pro Vasco se desse esse problema todo ainda mais se o time perdesse. Aí poderiam alegar mil coisas pra cancelar o jogo. Pelo menos até agora pelo andar da carroagem os "prano num deu mutcho certio". Mas o problema das organizadas persiste.

Em pesquisa da Radio Globo sobre torcedores, foi traçado um perfil que se divide em 4 categorias (leia matéria aqui). Me parece que o problema está na categoria denominada Tribal, onde mais se identificam as organizadas. Veja gente, aquela tribo entoando cantos de guerra, pulando tudo juntinho do mesmo jeito, geralmente no compasso de um surdo de marcação (tambor para alguns) é tribal demais. E o que pensar do fulaninho da periferia que mal tem dinheiro pra comer mas consegue acompanhar TODOS os jogos do seu time? Viaja com a torcida. Gente, esse cara não trabalha? Não tem família pra sustentar? Estuda? Torcida organizada é um problema social. O cara vê o time como religião. A única alegria dele é ver o gol. Com poucas perspectivas o time é o único consolo. Aí se perde, ou pior, é rebaixado de divisão, o cara acha que vai morrer. Aí ele quer matar um pois tem que colocar a culpa em alguém que é o torcedor do outro time. Aí, vira no que vira. 

Quem se lembra da final da Copa São Paulo de 1995 entre São Paulo e Palmeiras? Saiu em todo lugar.



E mais recentemente no final do brasileiro de 2009 quando o Coritiba foi rebaixado e ... saiu em todo lugar.



E agora os hooligans do Atlético- PR e Vasco, mais uma vez entram pra mídia de forma vexatória. 


Temos uma cultura a mudar no futebol, mas que interessa só pra quem se acha vítima desses distúrbios que geralmente é o pai de família que vai com filho e esposa achando que vai ter um domingo no parque e se depara com a vida e a morte para além das 4 linhas brancas do campo. Temos interesses mil: dos clubes que se beneficiam das organizadas e as usam como massa de manobra. Dos cartolas sexagenários que se perpetuam no poder dos clubes e federações. Até da mídia que precisa vender notícia. E também a falta de real vontade política em fazer leis mais severas (muitos cartolas são ligados com políticos ou são políticos); a falta de estrutura do judiciário em se fazer cumprir as leis. E a sociedade em geral que grita sob o modismo do momento mas que depois deixa passar, pois vai começar outro campeonato e ... "esse ano a gente leva".


Um comentário:

  1. Algumas pessoas tem orgulho de dedicarem sua existência para torcerem por futebol. Eu acho que torcem demais, há campeonatos demais, então sofrem sempre, posto que nenhum time consegue ganhar todas as partidas. Torcedores são todos muito parecidos, seguem o mesmo cânone cultural, se reconhecem. Sendo atávico, reparo que minha cadela cheira o rabo dos outros cachorros, reconhecem-se assim, é uma forma de comunicação, também às vzs se atracam de quase se matarem nessa de ficar um cheirando o rabo do outro. Assim comparando, não me admiro de haver tanta violência nos estádios de futebol. Peixinhos nadando juntos parecem formar um peixão, instinto tribal faz coisinhas parecerem coisonas, torcidas organizadas abrigam os trogloditas urbanos modernos. Os grandes felinos são solitários, silenciosos e perigosos, gosto mais destes! Comportamento tribal é algo um tanto aborígene !

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