quinta-feira, 27 de março de 2014

Nossa solidariedade refém do oportunismo.


 Cena comum em qualquer lugar:

Você está andando despreocupadamente pela rua e logo aproxima-se de você  aquele ser de alma aparentemente fragilizada. Com voz embargada e olhar tristonho de fazer inveja a qualquer Gato de Botas (Schrek) começa a lhe contar alguma estória/história (com H verdade, sem H conto de fadas) triste que lhe convença a inteirar  a quantia pra comprar o remédio, a cadeira de rodas ou a passagem pra visitar a mãe que está morrendo em Quiprocó do Leste.

Esta tarde enquanto me dirigia de bengala ao posto de saúde pra pegar alguns remédios que preciso para o pós transplante fui interpelado por um cidadão pedindo R$2,60 para completar o valor de uma bombinha para bronquite para a filha dele que estava doente. Lhe disse que não tinha no momento. Lhe desejei boa sorte e então ele seguiu sem nem parar no posto de saúde.

Outra que eu gosto muito é da pessoa que veio do interior encontrar a família mas não achou o endereço e agora precisa de uma contribuição para comprar a passagem de volta.

São tantos os contos e casos que daria pra escrever um livro. No entanto a questão é: até onde tudo isso é verdade? Ficamos sabendo de tantas situações de pessoas que se aproveitam da boa fé alheia que ser solidário nesses casos é quase receber diploma de otário. E nossa solidariedade virou refém do oportunismo.

Na rua, nas esquinas, nos pontos de ônibus, nos semáforos volta e meia tem alguém com uma H-estória triste. Como acreditar ou não? 

Eu acho que abusar da solidariedade alheia para causa própria sem que se precise realmente é como roubar donativos de uma campanha após uma tragédia. Devia ser crime hediondo. E a coisa ficou tão desmedida que é quase impossível acreditar nessas tragédias pessoais. Parece que estamos sendo enganados o tempo todo.

No caso do rapaz que me interpelou ele realmente não tinha o mínimo jeito de estar precisando. E o que não se faz por um filho? Se fosse verdade não dava pra lavar uma louça, por exemplo, por R$5,00 ... ?

Pior é o cara que vem do interior e não acha a família. Vem de longe, não avisa a família, não acha o endereço, vem sem dinheiro pra passagem  de volta e ainda quer ajuda? Que burro!!! Verdade ou não esse merece se ferrar. Além do que pra esses casos aqui em Curitiba há uma secretaria perto da rodoviária inclusive, que dá assistência e passagem de volta a cidade de origem pra essas pessoas após devida verificação. O mágico é encontrar dias depois a mesma pessoa com a mesma estória, como já me aconteceu. Terrível. E triste ao mesmo tempo.

Solidariedade e caridade acho que são preceitos do espírito humano dos mais nobres. Por isso o abuso egoísta deles repudio veementemente. Não dou não. Acho que acabo sendo mais caridoso quando o cara vem e pede R$1,00 pra inteirar na cachaça. Esse não está enganando ninguém.
 
E isso não acontece só com as pessoas comuns. Muito comum em certas igrejas que apelam pra caridade e solidariedade em pró dos necessitados, necessitados que só aumentam e na verdade deviam diminuir com tanta doação, só se vê pastor necessitado e em cada esquina aparece um templo novo suntuoso. Não dava pra construir um hospital, ou uma escola?

É uma situação difícil e muito particular. Vai do íntimo de cada um. Há um ditado que diz "fazer o bem sem olhar a quem". Hoje infelizmente se corre o risco de se fazer o bem a quem não merece e depois não poder fazer a quem realmente precisa. 

E você como age nessas situações?


Oscarizando geral!

Olá pessoal. Mais uma vez aqui pra falar dos filmes do último Oscar. Sabe como é. Em casa, se recuperando do transplante e vamos fazer o que? Ver uns filminhos. Não sou crítico de cinema mas vou deixar minhas impressões sobre algumas películas da sétima arte.

Gravidade (Gravity)

Um acidente em órbita do planeta coloca em risco uma missão americana onde uma astronauta precisa ser rápida para sobreviver e voltar com vida à Terra. Ao final do filme fiquei com a impressão de muito dinheiro jogado fora. Detestei o filme. Pra quê aquilo tudo? Ok que recebeu uma bagatela de prêmios técnicos no Oscar mas nem isso acho que justifica assistir o filme. Achei o argumento fraco. As interpretações também não me convenceram. E olha que a Sandra foi indicada como melhor atriz! Faltou um algo mais que justificasse o filme. O filme busca ser um drama. Então qual é o argumento? Tipo: o espaço é perigoso? Ok, pegar transporte público também é; mostrar a frieza em situações de risco? Veja o que pode fazer uma mãe pra salvar a vida de um filho. Cinema pode ser inspirador. Veja o filme e me diga no que ele te inspirou. A mim, nada.


O Lobo de Wall Street (The Wolf of Wall Street)

Ambicioso jovem quer entrar no mercado financeiro e faz fortuna em Wall Street com golpes e transações falsas. Na hora lembrei de Prenda-me Se For Capaz, de 2002, que também é com Di Caprio. O filme revela o submundo do mercado financeiro e me deixou a impressão de que dependendo do crime, ele compensa sim. Di Caprio empolga com situações istriônicas de seu personagem. Só achei o filme longo demais: três horas é muita coisa pois há momentos que perde o ritmo. Não levou nenhum douradinho pra casa mas vale sentar e assistir.



HER

O melhor filme dessa safra, dos que vi até agora. Homem solitário se apaixona por um sistema operacional de inteligência artificial e passa a sentir sensações como de um relacionamento convencional. Merecidíssimo Oscar de roteiro original o filme consegue tratar as principais nuances de um relacionamento virtual lhe fazendo pensar sobre as relações reais também. Até o ciúme. O filme é tocante. Sensível. A interpretação de Joaquim Phenix é primorosa e descontraída. Você se emociona com ele. A fotografia também merece atenção. Assim como a trilha que conduz bem a trama toda. Há momentos mágicos que trazem a questão das dificuldades práticas de se ter uma relação virtual ficar em segundo plano. Fica dependendo do envolvimento que se dá a relação. No fundo o que precisamos é de uma boa companhia que nos faça bem, nos faça sentir vivos. Mesmo que quem nos ajude nisso não esteja tão vivo no sentido mais literal da palavra. Pare o que está fazendo e vá ver esse filme.



quarta-feira, 26 de março de 2014

Com as próprias mãos ...e mais alguma.

"Buenas..."

Passados 5 meses de transplante comemorados no ultimo dia 19 do corrente mês me pego pensando nas atuais batalhas que se apresentam a mim neste momento. A verdade é que nem tudo são flores.

Desde o comecinho do ano (por pouco não passei o Reveillon internado) tenho convivido com uma situação diária que é a perda significativa de movimentos da mão esquerda. Fiz o tratamento de 21 dias pra tratar o citomegalovirus que decidiu acordar (comum em transplantados devido à baixa imunidade) e ao mesmo tempo apareceu esta debilitação.

Fiz um exame chamado eletro-neuromiografia, que vai dando uns choquinhos na região examinada, mas esse exame foi inconclusivo e o outro neurologista que fui pediu para refazer em outro lugar. Só consegui marcar pro mês que vem. Aliás esse é outro problema. Achar no convênio quem faça esse exame para membros periféricos. Parece que a maior parte dos neurologistas gosta de cuidar mais dos nervos de coluna e cabeça.

Esse problema na mão ocorreu no braço onde foi feita a fístula e segundo hipóteses isso possa ter afetado o nervo braquial correspondente aos movimentos dos principais dedos da mão (polegar, indicador e dedo médio) mas só poderei ter certeza após realização do exame e isso se ele encontrar mesmo a causa e que possa indicar um tratamento. Já pensei em procurar acupunturista até.

Enfim sinto a mão meio anestesiada e sem força. Tenho dificuldades pra fazer várias coisas simples como abotoar camisa, amarrar um calçado e até mesmo cortar alimentos. Digitar também é meio complicado

Não parece ser efeito colateral de algum dos muitos medicamentos ingeridos. Pelo menos não apareceu nada que indicasse isso até o momento. 

Pra piorar comecei a sentir algo parecido no pé direito o que tem causado incomodo ao caminhar. A firmeza nas pernas diminuiu e por vezes uso uma bengala pra me ajudar e não ficar doendo a perna. A Dra. Fabíola que acompanha meu pós tx pediu uma ressonância de coluna. 

Quando a gente passa por um transplante tem a esperança na melhora significativa da qualidade de vida. Isso é uma certeza que nos move. A gente só não sabe quando poderemos desfrutar dela planamente pois na verdade o transplante é um salto na grande caminhada da recuperação.

Força sempre!


sábado, 22 de março de 2014

Telona da semana: Clube de Compras Dallas e A Menina que Roubava Livros.

Esta semana saboreei alguns filmes que estão passando nos cinemas e estavam causando burburinho no pessoal. Um pela história baseada em fatos reais e  outro baseado num best-seller.

Clube de Compras Dallas

A história de um vaqueiro que se descobre portador do vírus HIV no início da epidemia nos anos 80 e apesar de ser hetero sofre com o estigma da doença gay. Mas essa não é a questão central. Naquela época nos EUA o tratamento era feito só com AZT. Ele fica sabendo de outro tratamento através de um médico no México e passa a tentar vender outros medicamentos proibidos pela Saúde americana mas que passam a dar melhores resultados que o AZT. Spoiller a parte, a senda do poder da indústria farmacêutica contra a luta da existência humana. Diagnosticado pra viver 30 dias, morre só depois de 7 anos com os tratamentos alternativos. 
O que me impressionou foi a transformação do ator Matthew Mcconaghey para viver o protagonista. Numa interpretação que lhe valeu justamente a indicação ao Oscar, eu mesmo mal reconheci quem era o ator que fazia o protagonista. Você acredita que nessa foto abaixo essas duas pessoas são a mesma? Não é a primeira vez que um ator se transforma pra dar vida a seu personagem, tal qual Charlize Teron em Monster (ganhadora do Oscar), e outros que não vou lembrar agora. Mas essa do Matthew realmente foi surpreendente. O roteiro te auxilia a entrar na história, e o que achei muito legal é que os personagens também tem uma.

 
 

Baseado no livro de Markus Zuzak, A Menina que Roubava Livros foi outra peça da sétima arte que me chamou atenção. Mas não muito.
Menina alemã de mãe comunista é adotada por casal "normal" e sem saber ler passa a roubar/emprestar alguns livros pra seu pai adotivo alfabetiza-la. A família passa uns apertos quando por uma promessa do passado o pai da menina passa a esconder um judeu no porão. Spoiller 2. Não me xinguem.
Não consegui embarcar na história. Achei meio blazê demais (dizem que o livro é bem melhor). Essa coisa de ter coragem e esperança a lá A Vida é Bela, mesmo com o mundo caindo ao seu redor acho meio passado já. A estória se passa durante a segunda grande guerra. Mesmo o Geoffrey Rush acabou sendo ator demais pra papel de menos.  Gosto da madrasta. Vivida por Emily Watson me parece o único personagem que evolui na trama. 
Se leu o livro, assista e tire suas conclusões. Se não leu mas tá curioso, vá numa sessão mais barata.


sexta-feira, 21 de março de 2014

O ministério da saúde adverte: não é necessário selar.

Olá meus queridos curiosos virtuais. Esta semana recebi uma carta-resposta do SUS com informações sobre a minha cirurgia de transplante. Além de uma pesquisa de satisfação  sobre o hospital onde fiz o transplante (Hospital Angelina Caron, que eu suuuuper recomendo) também veio descrito o valor pago pelo SUS ao hospital pela cirurgia e dias internados do pós-operatório. Exatos R$65.991,13. Não coloquei a carta-resposta no correio ainda pois não achei uma caixa coletora, mas esse ato me parece a busca do SUS em dar clareza aos seus processos já tão citados em escândalos e dimensionar os impostos que pagamos e por vezes raras nos retornam de forma justa.



Praticamente 66 paus. Putz grila. Apesar do valor pra quem viveu o que vivi parece não significar muito. Por outro lado posso testemunhar que se alguma coisa funciona bem no SUS é o processo de transplante. Já relatei isso aqui em posts anteriores de como foi tudo tão bem feito. A qualidade dos serviços, dos profissionais (tirando um enfermeiro que tentou pegar a veia no dedo da mão), de tudo em geral fui super bem atendido. 

Também recebi esta carta quando fazia hemodiálise. Acho uma iniciativa válida até porquê se você foi atendido pelo SUS para um exame e recebe a carta dizendo que realizou uma cirurgia, fique esperto e denuncie. 

E você que já usou o SUS, o que tem a dizer?

sábado, 15 de março de 2014

Porque temos pressa ... Mas o tempo não.

Foi-se o raio de luz que o peito não segurou. Foi rápido.
Fugiu.
E aquela força toda queimou na saída. Deixou o buraco aberto no meio do ser.
Vazio.
Preenche com o que vê na ansiedade de estancar o que sangra.
Dói.
Mas nada ocupa o lugar daquela dúvida por mais possibilidades que os olhos possam ver.
Corrói.
Anestesia a fé com a dor e a carne sente o torpor do que não está lá.
Ilusão.
A dor fez perder o foco mas sabe que o buraco está lá. Finge não estar. Finge não ser.
Comum.
Um alívio imediato lhe toma. Ilude a dor.
Mais um.
Vê a pressa lhe levar. A dor voltar. A realidade cobrar.
Lembrar.
Cessa a queimação mas sabe que o espaço está lá. A luz que preenche não esta fora .
Solução.
Usa o tempo. O olhar é mais ao longe.
Recolhimento.
A vista do topo da montanha é mais bonita. Mas mais solitária.
Equilíbrio.
Aprende a andar no compasso do relógio. O peito fecha.
Voa.
E descobre que cada compasso tem seu relógio. Aprende a sair dos compassos lentos.
Porque temos pressa. O tempo não.
Vive.


 

sexta-feira, 14 de março de 2014

Cuidado com o umbigo monstro!

Olá prezados e prezadas. Estamos aqui reunidos para celebrar mais este momento da ciência popular que constatou: o mais expressivo órgão humano é o UMBIGO.

Ok, não é nenhuma teoria da conspiração contra o coração,o cérebro, rim, fígado ou qualquer outra parte do corpitcho que em cada pessoa costuma ter importâncias diferentes. Tem gente que não tem coração, outras não tem cérebro e estão aí indo e vindo e cruzando nosso caminho sem a gente saber exatamente por quê. "Deus, depois você nos explica isso direito".

Mas o "uImbigo" pra algumas pessoas parece que tem até vida própria e é ele que faz  o papel do "célebro".

Vejam minha gente no princípio da vida o umbigo é a fonte de energia que nos faz desenvolver no comecinho da vida. O cordão umbilical é o cara até que uns nove meses depois da concepção cortam ele e esperam a parte que fica ainda grudada em nós cair pra seguirmos nossa vida. E fica o umbigo.

Algumas pessoas criam uma ligação com o umbigo e este cresce numa proporção que passa a dominar a vida da pessoa. 

O umbigo chega a substituir a visão. Os olhos. Muita gente passa a enxergar o mundo a partir de seu próprio umbigo e vamos combinar: nesse prisma a visão pode ficar meio redondinha e pequenininha. A retina do umbigo não é transparente então é comum uma visão deturpada da realidade. Sem pálpebras não há lubrificação. Em alguns casos há muitos pêlos (atenção rapazes). Já tentou ver o mundo através da floresta amazônica? Sem chance. Óculos? Só se a haste for uma cinta liga, mas aí só usando um bustiezinho deixando a barriga com o umbigo de fora (mais uma vez meninos não tentem fazer isso). Se jogar uma camisa por cima pode usar a desculpa de estar usando óculos escuros.

É o que você esta pensando. Qualquer semelhança ...
sMas acredito que há coisa pior que é quando o umbigo cresce. E cresce muito. Tem gente que fica com o umbigo maior que o mundo. Aí corra que é capaz de te engolir. O mundo a sua volta fica muito pequeno. O que está ao redor tem pouca importância e então presenciamos as coisas mais absurdas. Fora deste mundo. Aquele umbigo é maior que tudo e se você tem um câncer, azar. A espinha num umbigo grande é um tumor. 

Já pensou num umbigo grande falando? E se for do tipo que gospe quando fala? Dilúvio.

Espero não ofender o umbigo de ninguém mas alertar a quem conhece um grande umbigo a perceber o perigo que corre e se defender na medida do possível. 

Há os umbigos ocultos mas que são basicamente os mesmos já citados só que agem atrás de você.

Enfim,umbigos fora do padrão são complicados. Como você lida com os umbigões que você conhece?