terça-feira, 21 de outubro de 2014

Feliz Aniversário, mas o presente fica pra depois! Parte 1.

Mais um dia normal. Acordei mais tarde hoje devido horário de verão e pela festa no vizinho ter passado da hora. Tomei os remédios de praxe e o remédio pra dor devido a herpes que atingiu o nervo da perna. Tomei meu café mas como já eram meio dia o café virou almoço. Deitei mais um pouco e depois ajudei a enfeitar a casa pro aniversário da minha sobrinha que fez 6 anos. Ruim ainda é subir e descer escadas pois a perna ficou fraca e por vezes dói.  A festinha foi bacana. Minha sobrinha ficou contente. Pena que choveu e não puderam usar a cama elástica.  A perna ficou doendo mas ainda fiz um café,  sociabilizei (rs) e dei um "cheiro' no meu sobrinho de 3 semanas. Tem quem diga que é minha cara. Fim de festa. Dar uma organizada. Banho. Remédios da noite. Escrever um pouco enquanto tento ver o debate presidencial - difícil. Enfim, parece que não foi um dia tão normal. Neste domingo fez um ano que fiz meu transplante duplo de rim e pâncreas.

A um ano atrás tinha uma esperança de qualidade de vida renovada. Com diabetes a quase 40 anos e a 7 meses fazendo hemodiálise o então esperado transplante aconteceu. Lembro que em um das consultas prévias fui alertado que o primeiro ano do transplante era bem difícil.  Mas fazendo hemodiálise 3 vezes por semana durante 4 horas e com crises frequentes de baixa de glicemia onde perdia a consciência e só voltava a vida com injeção de glicose na veia nem imaginava o que podia ser pior do que aquelas situações.  Devia ter pedido mais detalhes.

Com recuperação boa em 12 dias já estava em casa e com algumas situações que já relatei aqui, os primeiros três meses passaram bem, apesar de serem os mais críticos. Mas a partir de janeiro as coisas começaram a complicar. Logo após reveillon fiquei internado 5 dias pra tratar de infecção por citomegalovirus (cmgv) devido a baixa imunidade. Mal estar, fraqueza e febre passaram mas me fizeram ainda ir ao hospital todos os duas por mais 15 dias pra tomar antibiotico na veia. O acesso venoso tinha que ser trocado a cada 4 dias e como estava com veias fracas toda troca era dolorida. Mas o problema maior foi a perda da sensibilidade e força na mão esquerda. Uma neuropatia se iniciava sem motivo aparente.


Dificuldades para abrir uma garrafa ou pote, segurar talheres ou uma caneca, lavar uma louça,  amarrar cadarços ou abotoar a camisa começaram a se tornar tarefas difíceis que por vezes altrravam em muito o meu humor. Procurei um neuro, fiz exames mas de início nada muito conclusivo que minhs médica do transplante (tx) pudesse se basear para alterar medicação.  Havia suspeita da dise dos imunossupressores.

Em março,  em viagem a São Paulo, a neuropatia se manifestou também no pé direito. Tinha ido até a Paulista com minha prima e o céu desabou no fim de tarde. Voltamos para casa de taxi. Como chovia dei um pique do taxi até a entrada do prédio que possuía um pequeno lance de escadas logo após a porta de entrada. Não consegui parar tendo que me segurar na porta para não me esborrachar na escada. Correr e frear, dar um salto e coisas do tipo começaram naquele momento a também serem desafios.

Claro que a vida seguia. Agente se adapta na esperança que todo mal é passageiro. Cinema, teatro, cafés com amigos, jantares e tal. A vida social seguia enquanto conseguia dirigir. E para as caminhadas maiores passei a usar uma bengala pois a fraqueza no pé por vezes causava desequilíbrio.


Apesar de não parecer me entregar a essas dificuldades sempre crescia em mim a tensão de poder voltar a trabalhar. Mas enquanto clinicamente parecia tudo bem, com exames médicos dizendo que rim e pâncreas estavam ótimos, as dificuldades motoras me afastavam do meu trabalho. Sendo bancário, como exercer plenamente minhas atividades profissionais com a debilidade da mão esquerda?  Lidar com documentação e contar dinheiro no caixa ficavam impossíveis.

E Deus rodeando minha vida através das pessoas próximas a mim. Mas quem sente na pele passa a questionar os ditos desígnios divinos. Sério que é comigo Deus? Ele está me testando, mas ainda não está satisfeito? Da pra variar de cobaia um pouco? Espero que Ele estejs anotando tudo lá em cima pois eu estou.
 O legal é poder usar a vaga de deficientes pra estacionar.  Eu tenho o cartão. Alguma vantagem a gente tem que ter.

Acho que Deus as vezes me compensava. O preço pra mim sempre foi alto, mas ...

Certa vez fui com uma amiga pra Santa Catarina que foi aprovada como professora numa instituição e rimos muito entre estradas, cidades e passeios revigorantes. O cansaço que purifica.

Veio a Copa e consegui me organizar para ver 3 jogos em Curitiba. Foi divertido e me senti muito feliz. Vivo, naquele clima de alegria e confraternização. Como imaginaria que um ano anterior fazendo hemodiálise poderia vivenciar algo tão especial? Só não podia pular na hora do gol com risco de perder o equilíbrio e cair sobre alguém. Tanta cicatriz na alma faz a gente vivenciar alguns momentos de forma plena como se fossem os últimos. Vivia a felicidade que me era permitida. A felicidade possível, pois a plena o tx ainda não tinha trazido.


2 comentários:

  1. Não há mal que sempre dure nem bem que nunca se acabe.Este ditado minha mãe sempre citava, por isso meu amor,isto tudo vai passar e vc finalmente terá sua saúde plena como sempre sonhou e nós também. Dou graças a Deus e peço as bençãos do Pai Maior para o doador e sua família que tão generosamente lhe deram uma nova chance de vida ,que mesmo com todas essas dificuldades foi a melhor coisa que aconteceu para vc e todos nós...Nunca perca a fé e a esperança pois tem gente no plano espiritual te ajudando muito e vc sabe disso.Feliz aniversário outra vez e que os próximos anos sejam de inúmeras alegrias. Beijos querido sobrinho meu, milhões e milhões deles.

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  2. Que legal! Apesar dos percalços parabens pelo primeiro ano! e parabens para tua sobrinha! hoje quando falamosnem tinha lido este post, senão tinha te desejado parabens pessoalmente! beijao

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