segunda-feira, 28 de março de 2016

Filosofando sob as águas ... do chuveiro!

 Ai, ai ... valeu né! Dia até que tranquilo, apesar da louça do almoço de domingo (aquelas travessas que grudam a gordura do assado são de matar). Ai vem a tarde, aquela morgada. Caçando alguma coisa que não seja um documentário, filme temático, reportagem de almoço familiar, novos manuscritos da Bíblia descobertos em algum mar, ou até transmissão ao vivo da ressurreição porque semana santa na TV é aquela coisa. Vai de Ben-Hur à biografia do Papa Chico (estava passando no NatGeo).

Aí você vai lá. Cansado, com aquela sensação de defumação de churrasqueira, decide fazer a cerimônia da purificação: vai tomar um banho. 

E é nesse exato momento que a reencarnação de Platão começa a brotar de dentro de você. 

Você tira a camisa e já percebe que se o banheiro pegar fogo você vai ficar pururuca com aquela gordura que escorre pelos poros. Cheiradinha básica no suvaco. Outra na camisa: é cesto pra lavar. Bermudão ...bermuda é engraçado, parece que suja menos (claro que depende do que fez naquele dia, se caiu cerveja e tal) - aí já começa o pensamento do que vai fazer no dia seguinte. separa a bermuda de lado e lembra que precisa separar os exames pra consulta, mas que você ainda não tirou aí depois do banho vai entrar no site do laboratório mas acha que o protocolo ficou no bolso da calça que não lembra se pendurou no cabideiro de roupas que ainda pode usar ou guardou no guarda roupa mas pode estar também na carteira que estava na ... desse modelo que a coisa vai acontecendo. 

Tira a cueca e dá aquela massageada no colega como quem diz "aí garotão, tá livre" (não sei como as meninas fazem isso ou se fazem. A gente faz.). Cheiradinha de relance na zorba e ... só vai pro cesto porque não pode ir pro lixo ... e lembra que final de semana que vem tem aniversário de alguém e precisa confirmar presença e ainda tem que falar com a ... Ana (Ana vai?) que sabe mais o que a pessoa gosta pra sugestão de "lembrancinha" (crise né gente). Não sei o que cheirar a cueca tem a ver com a lembrança de aniversário na semana mas a coisa funciona assim. Você faz uma coisa e aquele pensamento vem que nem Sócrates explica.

Abre o chuveiro e espera esquentar. Pensar que tem gente que nem água pra beber tem. E os filósofos sofistas descendo água abaixo. Porra, aquele comentário do João no seu post do Facebook que falava mau do Lula (...), devia ter mencionado que ele devia estudar história mas revolução Russa e os relatos dos exilados siberianos. Ou talvez a revolução Maoista e os 50 milhões de chineses mortos de fome. Cuba, Vietnã e Mianmar ia dar muito trabalho e o post ia ficar muito longo.

Hora do shampoo. Desta vez não vai ler o rótulo e suas mil nomenclaturas químicas. Lembra do lauril-éter e acha q as letras são muito pequenininhas. Pensa em ligar no 0800 da Unilever e reclamar. E se a sua avó precisa ler a fórmula do shampoo? Tadinha. Lembra que tem que ligar pra ela.

Pega o sabonete. Espuma é vida. Algumas partes ficam até divertidas com tanta espuma e acha engraçado (Papai Noeeeeeell). Aí o sabonete escorrega e ... lembra daquela pessoa. Aquela. Puxa, onde andará (escorregar sabonete e lembrar de alguém é básico). Caiu o Dove, pensou no (a) ... fulano (a). Onde andará? Faz tempo que não se falam. Aquela vez foi tão legal. Podia ter dito outra coisa. Mas será que foi o que disse? Papai Noel até acorda. Platão batendo. 

Deixa a água cair, deixa o chuveiro molhar. Fica até meio cético se aquele sabão todo vai passar pelo ralo. Bate um Pitágoras pra saber se os buracos do ralo vão dar conta. Já sabe como resolver o problema de logística do cliente. Eureka. Vai ali triangular a entrega com dois fornecedores. Por que até hoje não inventaram um bloco de anotações á prova d'água pro banheiro? Enfim. escovar os dentes.

Esqueceu a escova na pia. Sai todo trabalhado no Hipócrates fazendo aquela molhaceira no pé por pé como se fosse acordar alguém ou molhar menos o piso. Se escorregar capaz de precisar de médico. Volta correndinho. Receitas pro próximo encontro dos amigos que cozinham. Repete, melhora ou tenta outra? Melhor levar bebidas a mais e não cozinhar da próxima. Isso, vai levar uma sidra espanhola que assistiu num programa de viagens. Ficou no Face e quase queimou o doce da última vez. Enxágua a boca. Pasta cai no peito e dá um "geladinho". Eia babão. Tse, tse, tse.

Pega o sabonete pra dar mais uma deslizada pelo corpitcho. Aquela curtida vai. Se acaricia aqui, acaricia acolá. Aquela voz de Aristóteles no fundo mandando fechar a torneira. Mas você ali, de boa. Até que vem o pensamento de que, não era para você estar tomando banho sozinho. Onde andará aquela outra pessoa?

Aí fudeu. Aí vem Freud, Shakespeare, Sêneca e os cambau pra não te deixar comer o sabonete. Dá uma coisa na gente né? E seu amigo (da onça) disse que encontrou esses tempos atrás em um restaurante.. E você lembra que era bom quando estavam juntos, mas também lembra porque acabou, e quer mais que esteja bem mas morra lentamente.

Termina de se enxaguar, desliga a torneira e vai logo pulando pra fora pegando a toalha. Se enxuga mas não evita o sorrisinho cínico de lado. Sorriso que logo vai embora quando vê a molhaceira da hora que saiu pra pegar a escova de dentes. Enxuga com a toalha mesmo. Pendura. Se veste. É um novo ser humano completo, decidido e determinado. Essa semana tudo será resolvido prontamente. Vai para a sala ver TV. Time perdeu, reportagem policial, o ultimo BBB expulso, mais alguém foi pego roubando no congresso e a caça predatória ás lêmures albinas mancas da Slobrovenia do Leste.

Ai que mundo! Como viver assim? O que é que eu vou fazer? E os filósofos ficaram ralo abaixo.

Até o próximo banho.

sexta-feira, 25 de março de 2016

Não tem nada de errado em querer ir embora!


Pessoas desancoradas, livres do mundo, com um pé no chão e o outro no ar, vamos?

Nunca vi tanta gente falar em querer ir embora como atualmente. Claro que a motivação tem sido quase que unanimemente a atual crise política e econômica do Brasil que elevou a podridão a níveis estratosféricos. A falta de ética, a sede de poder e o mau-caratismo foram redefinidos por nossa classe política. O sentimento de desesperança nunca foi tão grande. Não vou entrar no mérito partidário, é só pra exemplificar.

Também há aqueles que procuram motivos emocionais para partir. desilusões amorosas ou paixões longínquas. Eu prefiro crer que nestes casos o problema é como você encara os problemas do seu coração. Talvez deixar um problema de amor para trás é só ir de encontro a um outro em outro lugar. O problema será o mesmo, só vai mudar o endereço. Não coloque ninguém pra morar no seu coração antes de uma reforma (leia isto).

Mas existe uma necessidade de partir que as vezes brota em nossa essência que não tem nada a ver com algo tão palatável quanto uma crise econômica ou um chute na bunda do coração. Tem a ver com um simples fato de que "este aqui não é o meu lugar".

Pertencimento é uma das necessidades sociais do ser humano e a vivência em grupo dita certos hábitos de comportamento que você segue pra se sentir aceito. Na adolescência fazemos algumas bobeiras para sermos aceitos. Quando crescemos nos identificamos com grupos distintos por gostos musicais, atividades esportivas, opiniões políticas, profissionais e etc. A união à família é uma necessidade de pertencimento emocional e sanguíneo de existência praticamente. Não dá pra viver sem essas pestes que tem o mesmo sobrenome que você (lembrou da tia fofoqueira que não larga do seu pé nas festas de Páscoa né? Se vira que domingo ela tá aí.).

"Deixe_me ir preciso andar,
Vou por aí a procurar,
Rir pra não chorar ..."
                                 Candeia

Mas existem aqueles que não estão nem aí pra isso tudo. Se dão bem com os ex, com os atuais. Levam os respectivos pras festas de família e nem ligam pro irmão pentelho e o cunhado que torce pro time rival. Aqui ou ali simplesmente acham que não pertencem a nada daquilo.

Geralmente é uma pessoas que transita por todos os meios sem maiores problemas. Conhecem bastante gente e até falam de futebol e dão pitacos em física quântica. Mas é aquilo. No fundo pensam "o que é que estou fazendo aqui?".

Faltam-lhes a necessidade de pertencimento a um determinado meio. Acho que na verdade a identificação com o meio acaba sendo tênue. Hábitos, práticas e situações as vezes lje parecem estranhas mesmo fazendo parte do contexto. Não que achem que o que está em volta é errado mas só não se veem fazendo as mesmas coisas. Nasceram no lugar errado e chegam em determinado momento da vida que percebem a necessidade de se encontrarem. De restabelecer contato com a necessidade de pertencimento real. 

São comuns os casos de pessoas que conhecemos e que de repente sabemos que estão longe. De repente alçaram vôo e se encontraram do outro lado do mundo. Tenho uma amiga que aconteceu isso e de nossas conversas uma coisa que sempre lembro que ela mencionou é que ela não se via como pessoa inserida no contexto a qual vivia aqui. Uma alma que nasceu no lado errado do oceano e se achou em outro lugar. Mantém seus laços familiares mas criou sua âncora de pertencimento em outros ares.

Sinto que as grandes transformações que me ocorreram nos últimos anos acentuaram certos sentimentos e necessidades que tentava suprir de várias formas. Uma separação complicada, uma desilusão fora de hora e um transplante duplo de órgãos com desdobramentos longos e sofríveis mexeram mais comigo do que eu mesmo queria perceber ou reconhecer. Quando parei de buscar um pertencimento mecânico quase adolescente notei o distanciamento que se abriu entre mim e tantas coisas. 

O pertencimento também se caracteriza pela sensação de você ser necessário no contexto. De perceber que você tem algo a acrescentar. Você olha á sua volta que algo de bom você está deixando com as pessoas e que você também recebe e aprende algo bom de quem está ao seu lado. E isso é muito importante também. Alimenta a existência. Quando essa troca diminui o pertencimento se enfraquece e surge a necessidade de se redimensionar ou buscar novos horizontes para reaquecer tudo o que escrevi aí em cima.

Diz-se que se você é brasileiro e você não desiste nunca, mas por outro lado, quando a Volkwagen parou de fabricar o Fusca ela usou no seu marketing a frase que evolução significa deixar de fazer certas coisas. Se existe a sensação que, tentar pertencer ao que se acha que já não se pertence a tempos, é de reinvenção ou mudança. 

"E se alguém por mim perguntar
Diga que eu só vou voltar
Quando eu me encontrar..."
                                          Candeia

De repente seu reencontro está longe. Eu acho que vou visitar minha amiga.


terça-feira, 15 de março de 2016

EMA, EMA, EMA ...

E aí gente! Saudades?

Mentira que nesses meses de sumiço ninguém escreveu sentindo minha falta. Mas entendo, vocês provavelmente andaram se incomodando com seus próprios problemas, ou pior, os problemas dos outros e nem deu tempo de vir aqui ver se eu estava com algum problema. Problema seu.

Problema todos teme resolve como pode. Ou não resolve. Mas temos mania de olhar pro lado e perceber que o problema alheio é sempre mais simples de resolver do que o nosso. O nosso sempre é mais difícil. Como a gente queria o problema do outro que é muito fácil de resolver do que o nosso e o mané fica ali reclamando ao invés de tomar uma atitude. É o mesmo pensamento que o mané tem de você, seu mané-mor!

 "O cara faz um drama por causa de uma unha encravada; vai lá e arranca de vez! Eu não! Eu que estou aqui com um problemaço, sem saber onde vou estacionar meu carro novo quando ir pro trabalho é que tenho um pepino dos grandes pra resolver." 

-- Vai de ônibus.
-- Deus me livre pegar o Boqueirão no horário de pico. Chego com o terno todo amassado. (Aliás lembrei que preciso de um terno para o casamento de um amigo. Ai que problema).
-- Paga estacionamento.
-- E deixar meia parcelado de carro pra esses exploradores?
-- Tenta carona.
-- Aqui em Curitiba o povo não gosta de dar carona (e não gosta mesmo)
-- Então você pode ... ai ai ai ai.
-- Que foi?
-- Minha unha.
-- Arranca logo essa coisa!
-- Pra você é fácil falar. Não é a sua.

Não é a sua. Não é o seu.

Existe um dimensionamento de problema que cada um dá de acordo com sua vivência, suas experiências de vida. Resolver o problema alheio é muito fácil pois você entra com a idéia mas é o outro que entra com a dor de fazer. Não significa que não se pode dar conselhos. Mas penso que conselho e ajuda se dá a quem pede, quem está disposto a ouvir uma opinião. Não adianta falar a quem não quer escutar. Capaz ainda se saírem falando de você e vai ser outro problema. Também existe a carência de maturidade e humildade de se aprender com os problemas que se vivencia e se repetem. Ou inteligencia suficiente para aprender com o problema do outro. Dói menos. Mas como diz meu pai, quando não é pelo amor tem que ser pela dor.

Vejo muita gente com problemas, que para mim, são simples. Mudanças de atitudes, escolha de prioridades, mudança de como encarar uma situação. Do pessimismo para a altivez já é meio problema resolvido. Mas é complicado, tem gente que procura problema onde não tem pra justificar alguma coisa que não consegue mudar. Pra esses a gente até fala: tá precisando de um problema de verdade.

Eu tenho um problema com disciplina. Se não tivesse não ficaria tanto tempo sem escrever pois assunto, tem. Ops ... pausa que o assunto tá perto. hihihihi. 

Me parece que existe uma quantidade bem grande de problemas que escolhemos ter. Coisas que a gente FAZ virar problema. Da vaga do carro, á unha que não se tira. Da pessoa que não nos ama de verdade mas não conseguimos desligar. Tem a lista de material escolar carrérrimos das crianças mas não muda de escola. A conta corrente negativa e os 10 cartões de crédito que não saem da bolsa. A pessoa de idade sozinha que está doente mas não abre mão do canto dela. E tem quem está doente que não escolheu ter problema.

O simples fato de pararmos, respirarmos fundo e olharmos para o lado já faz com que nossos problemas se reduzam pela metade. Quão grande é o seu problema? Olha que eu aprendi que quem tem problema de verdade é quem geralmente menos reclama dele. Mas também é quem menos fala do problema dos outros.

Ema, ema, ema ... cada um com seus "pobrema"!!!  Qual é o seu?